Resenha Crítica do livro Tempo de Voo
Queirós,
Bartolomeu Campos de. Tempo de Voo; Il.
Alfonso Ruano. São Paulo: SM Comboio de Corda, 2009.
É
através de um diálogo estabelecido entre um menino e um senhor que o consagrado
escritor de literatura infantojuvenil, Bartolomeu Campos de Queirós, tece e
destece o conceito de tempo, elaborando uma prosa poética, típica de sua escrita,
mas poderíamos afirmar, que há nessa obra uma verdadeira poesia metafísica em
prosa. Ao unir as duas pontas da vida,
seu começo e o início de seu fim, através das
personagens atadas à barriga do tempo cronológico, parece-nos
que o autor tenha concluído sua Capela
Cistina, em seu mais alto grau de depuração estética.
O
texto de Tempo de Voo elabora uma
dialética do tempo, dialética esta que vem sendo enleada ao longo das eras, que
culturas e gerações vêm tentando definir, perplexas. Como o mito grego do Titã Cronos, que assim como o próprio tempo
ao qual estamos amarrados devora os seus próprios filhos.
O
texto Eclesiastes (931 a.C.), de autoria atribuída ao monarca Salomão, também
disserta sobre as duas faces conhecidas do tempo: pai e devorador. Assim, devido
a esse caráter ambivalente do tempo, tudo na vida torna-se vão e sem sentido,
pois seremos consumidos por ele, impiedosamente.
A
ciência também busca definir o tempo. Na Física clássica, o espaço possuía
apenas três dimensões – altura, largura e profundidade. Com a teoria da
relatividade, formulada pelo famoso físico, Albert Einstein, uma quarta
dimensão é acrescentada: o tempo. Assim, toda a Física é reformulada, bem como,
o conceito einsteiniano permitiu-nos uma nova forma de ver o Universo e
surgimento da Física quântica. Tudo devido a uma nova visão sobre o tempo.
Também, não é gratuito que o famoso astrofísico Stephen Hawking retomou Uma breve história do tempo com uma Nova história do tempo para elaborar um
novo discurso acerca dessa quarta dimensão, renovando-a.
Com
isso, nessa breve explanação sobre os conceitos mais conhecidos acerca do
tempo, em mitos, textos sagrados e ciência. Intentamos convidar o leitor a ler Tempo de voo e buscar, nessa leitura, uma
conceituação pessoal sobre o seu tempo,
como sugere a própria capa. Se para alguns é tempo de ovo, para outros é tempo
de voo. Qual tempo é o seu tempo, leitor?Abra
o livro e descubra como Bartolomeu leva-nos a pensar sobre o nosso tempo, um
tempo que não é mito, nem ciência. Um tempo que é para vida e outro para voar.
Um tempo para conversarmos com aquela criança viva na nossa alma, ainda que em
nós haja cabelos brancos, pés-de-galinha e rosto trincadinho. Assim, mesmo sendo uma obra juvenil, convido o leitor
adulto a não se eximir dessa leitura. Pois a mesma terra que gera vida, guarda
nossos mortos. Tempo é terra para todas as idades e não há hora certa para
voar. Apenas existe o tempo, que nunca manifestou preferências.
A
narrativa de Tempo de voo contém
subgêneros e, por isso, é labiríntica, com um desfecho verdadeiramente
arrebatador. Acompanhada das ilustrações ousadas e surrealistas do espanhol
Alfonso Ruano, que também assina o projeto gráfico de excelência e constrói um novo
plano de narrativa iconográfica que se harmoniza com o texto de Bartolomeu.
Assim,
Tempo de Voo, que recebeu neste ano
de 2010 o Prêmio FNLIJ Hors-Concours
Orígenes Lessa – O Melhor Livro para o jovem, faz com que nós leitores
descubramos que fomos achados pelo tempo ou que, muito em breve, poderemos ser
devorados por ele, porque somos constantemente resgatados pelo fio de sua
paternidade.
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