segunda-feira, 4 de novembro de 2013


Resenha Crítica do livro Tempo de Voo


Queirós, Bartolomeu Campos de. Tempo de Voo; Il. Alfonso Ruano. São Paulo: SM Comboio de Corda, 2009.

         É através de um diálogo estabelecido entre um menino e um senhor que o consagrado escritor de literatura infantojuvenil, Bartolomeu Campos de Queirós, tece e destece o conceito de tempo, elaborando uma prosa poética, típica de sua escrita, mas poderíamos afirmar, que há nessa obra uma verdadeira poesia metafísica em prosa.  Ao unir as duas pontas da vida, seu começo e o início de seu fim, através das personagens atadas à barriga do tempo cronológico, parece-nos que o autor tenha concluído sua Capela Cistina, em seu mais alto grau de depuração estética.
O texto de Tempo de Voo elabora uma dialética do tempo, dialética esta que vem sendo enleada ao longo das eras, que culturas e gerações vêm tentando definir, perplexas. Como o mito grego do Titã Cronos, que assim como o próprio tempo ao qual estamos amarrados devora os seus próprios filhos.
O texto Eclesiastes (931 a.C.), de autoria atribuída ao monarca Salomão, também disserta sobre as duas faces conhecidas do tempo: pai e devorador. Assim, devido a esse caráter ambivalente do tempo, tudo na vida torna-se vão e sem sentido, pois seremos consumidos por ele, impiedosamente.
A ciência também busca definir o tempo. Na Física clássica, o espaço possuía apenas três dimensões – altura, largura e profundidade. Com a teoria da relatividade, formulada pelo famoso físico, Albert Einstein, uma quarta dimensão é acrescentada: o tempo. Assim, toda a Física é reformulada, bem como, o conceito einsteiniano permitiu-nos uma nova forma de ver o Universo e surgimento da Física quântica. Tudo devido a uma nova visão sobre o tempo. Também, não é gratuito que o famoso astrofísico Stephen Hawking retomou Uma breve história do tempo com uma Nova história do tempo para elaborar um novo discurso acerca dessa quarta dimensão, renovando-a.
Com isso, nessa breve explanação sobre os conceitos mais conhecidos acerca do tempo, em mitos, textos sagrados e ciência. Intentamos convidar o leitor a ler Tempo de voo e buscar, nessa leitura, uma conceituação pessoal sobre o seu tempo, como sugere a própria capa. Se para alguns é tempo de ovo, para outros é tempo de voo. Qual tempo é o seu tempo, leitor?Abra o livro e descubra como Bartolomeu leva-nos a pensar sobre o nosso tempo, um tempo que não é mito, nem ciência. Um tempo que é para vida e outro para voar. Um tempo para conversarmos com aquela criança viva na nossa alma, ainda que em nós haja cabelos brancos, pés-de-galinha e rosto trincadinho. Assim, mesmo sendo uma obra juvenil, convido o leitor adulto a não se eximir dessa leitura. Pois a mesma terra que gera vida, guarda nossos mortos. Tempo é terra para todas as idades e não há hora certa para voar. Apenas existe o tempo, que nunca manifestou preferências.
A narrativa de Tempo de voo contém subgêneros e, por isso, é labiríntica, com um desfecho verdadeiramente arrebatador. Acompanhada das ilustrações ousadas e surrealistas do espanhol Alfonso Ruano, que também assina o projeto gráfico de excelência e constrói um novo plano de narrativa iconográfica que se harmoniza com o texto de Bartolomeu.
Assim, Tempo de Voo, que recebeu neste ano de 2010 o Prêmio FNLIJ Hors-Concours Orígenes Lessa – O Melhor Livro para o jovem, faz com que nós leitores descubramos que fomos achados pelo tempo ou que, muito em breve, poderemos ser devorados por ele, porque somos constantemente resgatados pelo fio de sua paternidade.


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