domingo, 9 de junho de 2013


Violetta e Lucíola: a mulher como metonímia e sintoma da sociedade burguesa

            Em seu romance Lucíola, José de Alencar realiza uma transposição minuciosa do ambiente do Rio de Janeiro, na época do Segundo Império. Assim, o autor soube reconhecer os padrões de valores e conduta de uma sociedade dinamizada por status e dinheiro. Dessa forma, a personagem é uma representação do indivíduo em conflito com essa sociedade ou convencionado pela mesma. De igual modo, podemos observar na ópera La Traviata (“A Transviada”) de Giuseppe Verdi uma crítica à sociedade urbana do século XIX.
            Baseado na pela teatral “A Dama das Camélias”, do francês Alexandre Dumas Filho, La Traviata baseia-se, inclusive, na história real da prostituta Marie Duplessis, considerada uma das musas da sociedade parisiense na década de 1849. O próprio Dumas[1] fora seu amante. A única alteração dar-se-ia que na peça teatral "A Dama das Camélias", Dumas Filho utilizou-se de um codinome para Marie Duplessis, no caso, Marguerite Gauthier; em "La Traviata", Verdi a denominou Violetta Valéry. Na literatura brasileira, José de Alencar criou sobre a mesma história o romance "Lucíola".
           
A alta burguesia: Paris e Brasil

            A história de La traviata é ambientada no governo de Luís Felipe, apelidado como “rei burguês” ou “rei dos banqueiros”:

            Na França, a revolução industrial decolou na década de 1830. Nesse momento, o voto era determinado pela renda dos indivíduos (voto censitário). Portanto, só uma elite composta pelos antigos aristocratas e uma parcela da burguesia tinha direito ao voto. Na bolsa de valores a especulação era desenfreada; muitas fortunas surgiam da noite para o dia e os novos milionários eram agraciados pelo rei com títulos de nobreza. Assim o monarca satisfazia a ambição da burguesia em assemelhar-se à nobreza que antes combatera. Por sua vez, a nobreza hereditária anterior à Revolução Francesa (1789) começava a entender que a alta burguesia era sua aliada e que o maior inimigo das duas era o povo. (BONTURI, 2001)


            A alta burguesia mimetizava a nobreza, seguindo o mesmo modelo da educação, colocando seus filhos nas mesmas escolas, frequentando os mesmos ambientes (festas, exposições de arte, teatros de ópera etc.), como podemos observar também em Lucíola:

Estava no teatro lírico, onde o acaso me colocara junto de um moço com quem havia feito conhecimento na sociedade e cujo nome não me acode agora... (ALENCAR, 1985)



            Como podemos observar, a ligação entre ambas as histórias nos trazem uma reflexão muito atual em relação a padrões pré-estabelecidos pelas elites econômicas, as quais vão induzindo as classes menos abastadas da sociedade uma “maquiagem” pirateada do estilo de vida considerado superior.

            Na próxima semana, faremos uma perquirição entre as personagens Lucíola e Violeta, bem como o desfecho entre ambas as histórias.

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Bibliografia

ALENCAR, José de.  Lucíola. São Paulo: Ática, 1985.

BONTURI, João. Ópera "La Traviata" ajuda a conhecer sociedade urbana do século.  Folha Online Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u5641.shtml


[1] Autor de “Os três mosqueteiros”.

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